Queremos justiça | Nota de apoio à professora do IFB e aos demais militantes que foram alvo de calúnia por deputado do PL

Em uma tentativa rasteira de criminalização de movimentos sociais, partidos políticos e indivíduos brasileiros cujo posicionamento diverge do bolsonarismo raso e entreguista, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) enviou um documento à Embaixada dos Estados Unidos no Brasil com mais de 130 nomes. Entre organizações políticas, movimentos, parlamentares, lideranças e indivíduos, a lista cita a professora do IFB, Camila Tenório Cunha, como apoiadora das ações terroristas do Hamas. 

Além de tratar-se de difamação, uma vez que nem Camila e nem outras pessoas citadas no texto apoiaram as ações do grupo, o ofício encaminhado à Embaixada na última sexta-feira (20), e que saiu do gabinete de Gayer incita o ódio e a perseguição. O deputado chegou inclusive a publicar os nomes em sua conta no X/Twitter. Apesar de ter apagado o post logo em seguida, os nomes já haviam sido divulgados. 

Expressamos nossa profunda solidariedade à companheira Camila e aos demais companheiros e companheiras citadas nesse documento. 

Apoiaremos a professora em todas as medidas cabíveis para garantir que ela tenha a segurança e a justiça que lhe são devidas. 

Defender a Palestina Livre e posicionar-se contra o genocídio àquele povo que o governo de Israel iniciou há décadas não é o mesmo que apoiar o terrorismo de um grupo que surgiu em meio ao caos humanitário no qual foi mergulhada aquela população. 

O direito ao posicionamento anti-imperialista não se assemelha, nem de perto, à crueldade e arrogância destes grupos que, mesmo defendendo uma ditadura militar e exaltando torturadores brasileiros, sentem-se com respaldo moral suficiente para criar falsas denúncias apenas com o objetivo de incitar o ódio. Estaremos em luta pela justiça.
Toda a solidariedade à Camila e aos demais citados no texto.

Paulo Freire: PRESENTE!

Texto por: Maria del Pilar Acosta, professora do IFB e secretária de Política e Formação Sindical do Sinasefe Brasília

Eu, assim como muitas/os educadoras/es, pesquisadores/as, atores sociais políticos tenho uma relação profundamente afetiva com as obras, falas, entrevistas, projetos realizados pelo Paulo Freire.
Ele foi uma das pessoas que me ensinaram a pensar a partir da perspectiva do ethos solidário. Na minha tese, trabalhei em diálogo com suas obras, compreendendo o “método Paulo Freire” não como um método de alfabetização, mas como um tratado sobre produção de conhecimento. Ou seja, entendo que Freire nos legou um construto teórico-metodológico a partir do qual podemos produzir conhecimentos que têm o potencial de, efetivamente, transformar a realidade social.
Assim, em meu trabalho, desenvolvi o conceito da “metodologia da oprimida” em que a estética da reexistência coaduna com o ethos solidário investigativo (para mais Acosta, 2018).
Tenho um orgulho danado de, mesmo sem tê-lo conhecido (tinha onze anos quando de seu falecimento), ter com ele um carinho de aprendiz com mestre.
A imagem que ilustra este post é de uma aquarela que fiz em 2019, quando criamos junto ao PIBID IFB, o Festival Paulo Freire de Curtas Metragens.
No processo de pintura, camada sobre camada, fui talhando no papel de algodão o rosto, as rugas, as manchinhas, cada fio de cabelo e barba… até que fiz os olhos, verdes… parecia que ele estava lá comigo, vendo e me ensinando a ver.
Tenho uma gratidão eterna para com o seu legado, para com as/os professorados freirianas/os que, todos os dias, lutam pela transformação da realidade social a partir da educação, da ciência, da solidariedade.
Digo, com todo meu coração: sou freireana!
Isso me move, mais do que me caracteriza.
Paulo Freire é eterno!
Paulo Freire é nosso patrono!
Paulo Freire é o que o Brasil pode ser: um país que pensa o povo, age a partir do amor as gentes, constrói o mundo de bonitezas e generosidades.

PAULO FREIRE: PRESENTE HOJE E SEMPRE!!!

29M Fora Bolsonaro, vacina no braço e comida no prato!

Servidoras e Servidores do IFB, é hora de nos mobilizar!

Estamos vivendo uma realidade extrema. São quase meio milhão de mortes pela Covid no Brasil. Assistimos o aumento generalizado da miséria e dos custos de vida, a vacinação caminhando a passos de tartaruga e o avanço no Congresso de medidas que vão retirar direitos dos servidores públicos e prejudicar toda a população como a reforma administrativa, que tramita na Câmara dos Deputados e as privatizações. Por isso, é necessário que saiamos às ruas para derrotar este governo genocida. 

Além de todos os ataques aos servidores, como o congelamento salarial em meio a uma escalada de preços, o governo Bolsonaro cortou parte do orçamento dos Institutos Federais e Universidades no momento em que é necessário ampliar o investimento para garantir recursos de combate à pandemia, o ensino remoto emergencial de qualidade ou mesmo impulsionar o  investimento em pesquisas para combater o vírus. 

Não podemos esperar as eleições de 2022 para derrotar esse governo pautado pela morte e pelo ultra neoliberalismo. Até lá, a nossa população, especialmente a mais vulnerável, será dizimada pelo genocídio que está em curso no nosso país. Para derrotar Bolsonaro e defender a vida, os atos de rua e a mobilização nas redes sociais são de fundamental importância para nossa vitória.

É nossa responsabilidade preservar nossas vidas, use máscaras N95/PFF2 , leve seu álcool em gel e mantenha o distanciamento durante o ato. Se apresentar algum sintoma fique em casa.. 

Vacinação para toda a população, auxílio emergencial digno, contra as privatizações e a Reforma Administrativa e pelo Fora Bolsonaro e Mourão. Leve seu cartaz e sua indignação!

Masculinidade Hegemônica e o uso dos corpos

Por: Camila Tenório Cunha.

“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas/vivem por seus maridos/orgulho e raça de Atenas”. Chico Buarque, primeira frase da música Mulheres de Atenas.

Quando as mulheres viviam por seus maridos, significava que elas eram um objeto de serventia: para lhes servir, sexualmente, domesticamente, dar filhos, prazer e comida.
Quando as sufragistas lutaram pelo direito ao voto, votaram pelo direito à voz, à cidadania e dali para cá nós lutamos, diariamente, para sermos vistas como pessoas, seres humanos, com sentimentos, emoções, inteligência, capacidade cognitiva, força.

Por que continuamos lutando?
Porque o capitalismo trabalha com o subjetivo arraigado nas relações humanas, de que corpos são objetos para serem usados, explorados. O comércio trabalha com o corpo feminino para venda de produtos, ou seja, o patriarcado, apesar de tanta luta, é casado numa perfeita simbiose com o capitalismo.
Quando permitimos que as relações humanas sejam de usos dos corpos desconectados de valores, sentimentos emoções, ou seja: vou te “comer “, você é minha comida – algo meramente sexual – sem a vontade ou a proposta da construção de uma relacionamento de parceria, companheirismo, então caímos na reprodução do mesmo que nos cerca: a
exploração dos corpos, como se fossem objetos e não pessoas.
Muitas mulheres acreditam que lutar por liberdade seria reproduzir um uso do sexo como mero prazer, reproduzindo o sexo sem compromisso, sem afeto, que o patriarcado sempre usou. Só que toda reprodução não é algo que transforma, se lutamos para transformação e relações de companheirismo profunda entre todos, reproduzir os usos não seria
transformar.
A comédia francesa “Eu não sou um homem fácil”, traz um mundo oposto, matriarcado, onde as mulheres oprimem e usam os homens, o capitalismo ainda está ali e nas propagandas corpos de homens… Bem, é isso… Reproduzir seria continuarmos no lugar.
Transformar de fato seria nos vermos como seres humanos que podem viver juntos, como companheiros, relações profundas e lindas ombro a ombro, sem medo do amor, sem medo da entrega. Porque, afinal, você não será jogado fora na próxima temporada ou lançamento do novo ‘brinquedo”, “carro”… Você não é um objeto, um brinquedo que se enjoa, é alguém com defeitos e qualidades, tanto quanto seu companheiro – e – juntos, tentarão se acertar, conviver, evoluir, aprender e trocar um com o outro.
Pode ser que depois de muitos anos, tentativas, todos resolvam seguir, com respeito e conversa, caminhos distintos, mas jamais será jogado fora como objeto no primeiro desentendimento.
Porque jamais um ou outro será visto como objeto.
Não adianta se dizer contra qualquer forma de exploração humana, e, explorar o afeto, o
romantismo e entrega do outro, mas, quando lhe convém, num problema, incômodo ou questionamento, jogar fora. Bloquear de aplicativo e nunca mais procurar para uma conversa, muitas vezes depois de praticamente terem vividos juntos, às vezes até por meses.
Esta forma de agir não se restringe ao gênero masculino com o feminino, apesar do patriarcado. Todavia, quando é uma mulher a agir assim, usando afetos, brincando com sexo casual, etc, ela está apenas reproduzindo o que sempre a cercou, usando seu “empoderamento” para “mais do mesmo”. E, reproduzir o patriarcado que nos cerca, não é transformá-lo, sendo que nosso interesse principal seria transformá-lo, não?
Assim como derrubar o capitalismo, que sempre será machista, racista, misógino.
Neste momento quero olhar para as sociedades tradicionais, aborígenes, indígenas, tribos africanas, quando muitas vezes as relações de afetos entre homens e mulheres se dão na contra mão de como se dá dentro do capitalismo, mesmo que muitas sejam machistas e patriarcais também. Não que sejam perfeitas, mas não há registros antropológicos de pedofilia, viciados em sexo, viciados em pornografias, etc. Contudo, na maioria delas, há sempre a busca pelo Sagrado nas relações do ser humano com a natureza, e, com o sexo entre o homem e a mulher.
Talvez fazer uma pausa do frenetismo pelo sexo, pelo consumo, e tudo isso misturado na nossa sociedade, para rever o Sagrado que ele poderia significar, assim como o quanto especial se relacionar poderia ser, talvez pudéssemos enfrentar o patriarcado com muito mais eficiência do que reproduzindo ações vazias de patriarcas.
Dizer para si e para o outro: vamos construir algo? Porque só brincar com este sagrado não interessa, talvez nossas energias estivessem na transformação real e tanta opressão e violência não ocorresse.
Por que a violência contra a mulher aumentou na pandemia? Porque o objeto, o brinquedo, talvez tenha “fugido’ do controle confortável e questionado uma ajuda para lavar a louça, olhar as crianças, dividir ombro a ombro as tarefas do lar. E o homem, que se acha ainda um guerreiro de Atenas, não aceitou ver sua Melena se transformar numa Frida. Depois de
algum tempo sob o mesmo teto fica difícil não querer que todos participem dos afazeres, que compartilhem.
Então, para termos uma sociedade onde todos os corpos sejam vistos como seres humanos, não podemos reproduzir o patriarcado, em nenhum aspecto. Temos que transformar todas as relações, e, estarmos preparadas, nesta pandemia, para socorrermos as irmãs que questionaram seus maridos machistas.
Temos que lutar para que brincar com os filhos seja mais importante do que cumprir metas remotas no computador. Temos que lutar por uma grande transformação, começando nas pequenas, onde cada vida é especial, importante, não pode ser iludida, explorada, usada, esquecida.
A verdadeira transformação de uma sociedade mais justa, melhor, com respeito, começa no micro de cada relacionamento humano e chega ao macro. Senão ficaremos em círculos gastando energias e reproduzindo explorações em diversas áreas. E escolher amar é escolher revolucionar, transformar, de fato.