Plano de retorno gradual: categoria considera documento incompleto e superficial

Em assembleia realizada na noite da última segunda-feira (18), servidores do IFB debateram sobre o plano de retorno gradual apresentado pela reitoria, deliberando que não aceitariam o mesmo pelo fato do documento ser vago e pouco detalhado sobre as etapas do processo de retorno presencial, o público que seria atendido, o orçamento destinado para lidar com as questões da pandemia, dentre outros aspectos. Na tarde desta terça-feira (19), entretanto, o plano foi aprovado pela maioria do Conselho Superior (Consup) com algumas emendas. 

Para o representante do Sinasefe Brasília no Conselho, Paulo Cabral, o documento continua muito aquém do esperado, especialmente no que diz respeito à garantia de segurança aos discentes.

Durante a assembleia, o professor apresentou uma série de dados que indicam a ineficácia do Distrito Federal no combate à pandemia. “A gente viu nesse período, por exemplo, que temos uma taxa de contaminação maior do que o resto do país. Isso acontece pelo alto índice de circulação de pessoas e pela flexibilização das medidas sanitárias, além do nosso transporte público, que é ineficaz, o que gera superlotação”, explicou. 

Sobre o perfil dos estudantes do IFB, Paulo afirmou que a maioria possui baixa renda, utiliza o transporte público e mora em casas mais populosas, o que facilita a transmissão. O professor destacou ainda que o plano apresentado pelo Instituto não deixa claro quantos alunos seriam contemplados nessa primeira fase de retorno, informando apenas que a prioridade é dos estudantes que possuem disciplinas práticas pendentes para concluir os cursos. 

A dirigente do Sinasefe Brasília, Camila Tenório Cunha, destacou a insegurança de um possível retorno presencial antes do controle da pandemia. “Temos turma de 40 alunos, muitos deles não estão imunizados. Não existe segurança sanitária pelo distanciamento, nem garantia da compra de máscaras adequadas. Também existe a falácia de que crianças e adolescentes seriam apenas transmissores sem sofrer graves sintomas com a doença, mas sabemos que se isso fosse verdade os leitos de UTI não estariam ocupados dessa forma. Além disso, o plano apresentado pelo IFB é incompleto, mínimo. Se formos comparar com o da UnB, por exemplo, que tem mais de 70 páginas, enquanto o nosso tem 3, fica evidente que faltam muitos indicadores de como esse retorno presencial será realizado”, afirmou. 

Dimitri Assis, coordenador do Sinasefe Brasília, salientou que o plano apresentado pelo IFB deveria se tratar de um plano emergencial, com um corte prioritário aos formandos, e que só seria viável começar a debater um retorno gradual a partir do próximo semestre. 

“É necessário garantir equipamentos de proteção, e que haja o compromisso da elaboração de um plano mais robusto, com etapas, indicadores epidemiológicos prioritários. O plano aprovado pelo Conselho precisa ser o plano o mais restrito possível, contemplando apenas os que precisam se formar. Esse semestre precisamos usar para preparar a casa. Após a reunião do Consup precisamos marcar uma nova assembleia para deliberar com a categoria o que vamos fazer a partir da decisão do Conselho”, afirmou o sindicalista. 

Em breve, a seção Brasília realizará uma nova assembleia para debater o plano aprovado pelo Consup com os destaques e deliberar sobre o posicionamento e as medidas que a categoria pode adotar de acordo com a decisão.

Prisões políticas, repressão e capitalismo: live aborda arbitrariedades na pandemia

Na noite desta quinta-feira (15), o Sinasefe Nacional realizou debate virtual com a participação da seção Brasília abordando as prisões arbitrárias que aconteceram na semana passada, quando militantes foram detidos por defender as famílias da ocupação CCBB. Além deste fato, a live também abordou outras arbitrariedades que estão acontecendo durante a pandemia, momento em que os governos (tanto federal quanto distrital) estão aproveitando-se do caos instaurado para aprovar projetos, reprimir a população e intensificar a perseguição àqueles que lutam pelos direitos mais básicos, como moradia, educação e vacina. 

Érika Oliveira Cardôzo, militante do PSOL que foi presa durante a defesa à ocupação, destacou a insegurança que sentiu durante a condução à delegacia. “Foi uma situação bem difícil, a gente estava lutando por direitos que são assegurados pela Lei e a gente recebeu uma operação desumana, nas condições que estávamos e que a operação chegou. Foram dois dias de operações pesadas que estive presente”, afirmou Érika. 

A ativista ainda destacou como o fato de ser mulher contribuiu para a tensão que sofreu no momento em que foi detida.  “Para quem vê de fora parece piada, porque nada tem qualquer lógica, tive sorte no momento da minha prisão por não ter sofrido nenhuma agressão física, sofri agressão psicológica, eles falam coisas que assustam a gente, no momento que eu saí fui levada por um homem e ninguém pôde me acompanhar, não me deixaram ter acesso a nenhuma pessoa, eles levam a gente, eu não sabia para onde ia, não pude avisar ninguém e por ser a única mulher me senti insegura”, afirmou. 

Camila Tenório Cunha, dirigente do Sinasefe Brasília, destacou que o que está acontecendo é um abalo na democracia, e que a situação é crescente desde o golpe de 2016. A sindicalista afirmou ainda que vários países aprovaram Leis tornando o despejo ilegal durante o período da pandemia e o Brasil realiza o movimento contrário. 

Pedro Menezes, ativista que também foi detido na ocupação, destacou a falta de empatia do Estado em relação àquelas famílias em estado de vulnerabilidade. “A gente vive um reflexo do que está acontecendo no país inteiro. Essa atitude da polícia é mais um abuso de poder, dessa mão que o Estado tem. Uma coisa que me tocou muito, além de todo esse terror psicológico foi a ideia de certo e errado que essas pessoas tinham na cabeça. Me perguntaram ‘o que você está fazendo aqui’, depois de afirmar que eu estava fazendo o que eles chamam de baderna. Eles não têm esse sentimento de empatia nas atitudes deles”, afirmou.
Pedro ainda destacou que a compaixão daquelas famílias para com os presos políticos demonstra que o movimento que eles estavam fazendo era o correto. “Nesse momento de vulnerabilidade, a corda arrebenta ainda mais para o lado mais fraco”, observou. 

“Máquina de moer pobre”

Para Caio Sad, estudante do IFB e dirigente da Fenet, os governos na sociedade capitalista são uma máquina de moer pobre. “ Isso é feito das mais diversas formas, das formas mais disfarçadas, desde retirar acesso à educação, saúde, quando você recorta recursos, quando você sucateia esses serviços, quando não tem transporte público, quando o pobre não tem acesso a cultura, mas no momento que a gente se mobiliza e decide que não dá mais para sobreviver nessa desgraça quando a gente decide fazer alguma coisa, esse processo de repressão se torna mais agudo e escancarado no momento de ascensão do fascismo”, afirmou o estudante. 

“Me lembro quando a Camila Marques foi presa e iniciamos um processo imediato de mobilização porque ficou claro que era perseguição aos docentes, ao pensamento crítico na educação do nosso país. Agora nós quatro fomos presos, e graças a mobilização de todo mundo, estamos livres e bem fisicamente, agora essas famílias continuam dormindo ao relento, as crianças sem escola, e o sistema vai continuar moendo pobre se a gente não se organizar mais. O que aconteceu só mostra que é impossível viver nessa sociedade sem lutar”, destacou Caio.  

Thiago Ávila, socioambientalista do Bem Viver, que também foi preso na ocupação, coaduna com a fala de Caio e destacou a importância da resistência nesse momento. “Nunca será seguro combater esse sistema, por isso temos que nos proteger solidariamente”, alertou. 

Para Camila Marques, coordenadora Nacional do Sinasefe, é importante compreender como a ultra direita ganhou espaço em nosso país. “Eu até pensava na possibilidade de uma ditadura militar mas pensar em viver o fascismo não me passava pela cabeça de forma nenhumaSó em uma sociedade capitalista, as pessoas estão morrendo sem oxigênio no estado do Amazonas, só numa sociedade capitalista, a gente está morrendo aos milhões por algo que já tem vacina, só numa sociedade capitalista tem gente ganhando dinheiro com a pandemia, só em uma sociedade capitalista, catadores e militantes que defendem o meio ambiente são presos por crime ambiental. É para ontem a nossa tarefa de derrubar o capitalismo”, afirmou a sindicalista.
A live completa pode ser assistida aqui: https://www.youtube.com/watch?v=CZd-czIQoKQ

Camarote VIP: Projeto que legaliza o “fura fila” tramita no Senado

Reprodução: PT.

Enquanto os brasileiros mais vulneráveis sofrem sem leitos de UTI, oxigênio ou anestésicos para o processo de intubação, o Senado Federal recebe o Projeto de Lei 948, que pretende facilitar a compra da vacina contra o Coronavírus pelo setor privado.  A proposta, de autoria do Deputado Federal Hildo Rocha (MDB), foi aprovada pela Câmara dos Deputados e simboliza uma afronta ao direito universal à saúde, garantido na Constituição. 

Nesta terça-feira (13), o Brasil atingiu a marca de 355 mil mortos, com uma média de 3 mil óbitos por dia.  De acordo com dados levantados pela ONG Instituto Polis, no ano passado, a cada dez pessoas que relataram mais de um sintoma da Covid-19, sete eram pretas ou pardas. A pesquisa também apontou que homens negros são os que mais morrem em decorrência da doença no país e que isso acontece devido às desigualdades sociais e econômicas presentes em nossa sociedade. 

O parlamento, entretanto, preocupa-se em dar celeridade ao processo de intensificação dessas desigualdades ao aprovar o PL 948. A Proposta escancara o compromisso do governo e da maioria dos representantes eleitos com o empresariado, em detrimento dos direitos básicos da população, mesmo no momento crítico que o país enfrenta.  

“Diante da política deliberada do governo Bolsonaro de não comprar vacinas, como a negativa de 70 milhões de doses da Pfizer em agosto que hoje significaria milhares de vidas preservadas, foi aprovada a lei do camarote das vacinas que permite que empresas comprem vacinas para vacinar seus executivos antes dos grupos prioritários da população em geral, como idosos e trabalhadores de serviços estritamente essenciais que continuam sendo expostos ao vírus diariamente”, alerta o coordenador do Sinasefe Brasília, Lucas Barbosa. 

O sindicalista também esclarece que o texto do Projeto privilegia uma parcela da população em detrimento da outra. “Na prática, um executivo jovem de uma grande empresa que ficou toda a quarentena de home-office será vacinado primeiro que um motorista do transporte público ou caixa de supermercado, contribuindo assim com o sucateamento do SUS e aprofundando as desigualdades sociais porque quem tem dinheiro vai ser vacinado na frente de quem mais precisa da vacinação”, afirma. 

Atualmente, apenas 10 países concentram 75% das vacinas aplicadas no mundo. No Brasil, só 10% da população foi vacinada, ao mesmo passo em que o número de mortos aumenta vertiginosamente. “Esta lei busca mascarar a incompetência e a política deliberada de morte do Governo Bolsonaro.   Demonstra também que as multinacionais da indústria farmacêutica ao vender vacinas para as empresas vacinarem seus donos e parte dos empregados não tem compromisso com a vida da maioria da população mundial e que o lucro está acima das vidas”, explica Lucas Barbosa.

O Projeto de Lei ainda não tem data definida para votação no Senado Federal. A consulta pública sobre o teor do mesmo, está disponível aqui.
Até o presente momento, 151 pessoas votaram contra a matéria e 22 a favor.

“Nas últimas semanas a gente está presenciando a morte de um World Trade Center por dia”, afirma dirigente sindical

O triste marco de 300 mil mortes por Coronavírus foi alcançado essa semana. Em virtude dessa tragédia, militantes ligados a partidos políticos, movimentos sociais e sindicatos realizaram, na manhã dessa sexta-feira (26), um ato simbólico contra o presidente Jair Bolsonaro (Sem Partido) e em defesa da vacinação ampla e irrestrita para todo o povo brasileiro. A atividade foi curta e seguiu os protocolos de uso de máscaras e distanciamento social. 

Em protesto, os manifestantes levaram faixas e cartazes ligando Bolsonaro às mortes que estão acontecendo durante a pandemia. “ O governo tem culpa porque desde o começo tratou o vírus com descaso. Se a gente tivesse feito o fechamento de tudo desde o início, se tivéssemos respeitado as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de mortos seria muito menor. Mas o mercado, o comércio e o capital foram mais importantes do que a vida para esse governo”, afirmou a coordenadora do Sinasefe Brasília, Camila Tenório Cunha, que esteve presente na atividade. 

A sindicalista ainda falou sobre o cartaz que levou para a atividade e a sua indignação em relação tanto ao descaso das autoridades quanto à apatia dá população. “Nas últimas semanas a gente está presenciando a morte de um World Trade Center por dia. Em 2001, quando houve esse atentado e 3 mil pessoas morreram todos ficaram chocados, mas agora parece que as pessoas estão anestesiadas. Ninguém se choca com essa quantidade de mortes por dia e sabendo que está sendo subnotificado. Há 6 mil pessoas esperando por UTI no Brasil, significa que se elas não conseguirem vão morrer, a gente está em um quadro desolador de genocídio e de morte desgovernado e a vacinação acontece a passos de tartaruga”, explicou Camila. 

O Sinasefe Brasília participa da campanha DF Vacinado, que visa pressionar o governador Ibaneis Rocha (PMDB) a fornecer a vacinação para toda a população. Clique aqui e contribua com o abaixo assinado, que na tarde de hoje já conta com mais de 3,5 mil assinaturas.

Foto: Fabiano Leitão. 

Defender a vida é um serviço essencial: Sindicato cobra medidas de lockdown no IFB

A alta considerável nas contaminações e mortes por Coronavírus no Distrito Federal levou o governador Ibaneis Rocha (MDB) a publicar, nesta sexta e sábado (26 e 27/02), decretos restringindo as atividades não essenciais, inclusive “atividades educacionais presenciais em todas as creches, escolas, universidades e faculdades, das redes de ensino pública e privada”.
Diante dessa realidade, o Sinasefe Brasília enviou hoje um ofício à reitoria do IFB solicitando que todas as atividades presenciais que estão sendo realizadas por servidores e terceirizados sejam suspensas enquanto durar o lockdown no DF. O último decreto do governador afirma que esse período vai se estender até o dia 15 de março.
Os decretos proíbem ainda eventos, academias, clubes recreativos, shoppings, restaurantes, bares, salões de beleza, dentre outros.
“Estamos preocupados com a manutenção da vida e da saúde de todos os trabalhadores do IFB e suas famílias, o que nesse momento é a nossa maior prioridade. Por isso, estamos cobrando uma posição da reitoria e a depender da resposta vamos chamar uma assembleia para deliberar sobre a paralisação das atividades presenciais”, explica o coordenador do Sinasefe Brasília, Dimitri Assis.
Desde o dia 13/02, o Distrito Federal registrou mais de 11 mil casos da doença. O número de mortes também subiu e hoje a capital está quase atingindo a triste marca de 5 mil vítimas letais da pandemia.

Leia abaixo o texto do ofício enviado à reitoria do IFB.

Brasília, 27 de fevereiro de 2021
À Magnífica Reitora
Profª. Luciana Miyoko Massukado
Reitora do Instituto Federal de Brasília – IFB

Assunto: Suspensão do trabalho presencial de servidores técnico-administrativos e trabalhadores terceirizados em virtude de decreto de lockdown do GDF.
Magnífica Reitora,
Considerando que o decreto nº 41.842, de 26 de fevereiro de 2021, do Governo do Distrito Federal, o qual dispõe sobre medidas para enfrentamento à pandemia de COVID-19 de modo a conter riscos, danos e agravos à saúde pública, suspendeu a partir do dia 28 de fevereiro de 2021 diversas atividades e estabelecimentos comerciais e industriais, incluindo atividades educacionais em todas as escolas, universidades e faculdades, das redes de ensino pública e privada (art. 2º, inciso III), solicitamos a imediata suspensão, no âmbito do Instituto Federal de Brasília, de todas as atividades que vêm sendo executadas de modo presencial pelos servidores técnico-administrativos e pelos trabalhadores terceirizados para resguarda-lhes a saúde e dar cumprimento às determinações do decreto do GDF.

Agradecemos a atenção dispensada e colocamo-nos à disposição.
Atenciosamente, 

DIRETORIA DA SEÇÃO SINDICAL DE BRASÍLIA DO SINASEFE
Gestão Organizar, Lutar e (R)Existir.

Resistir para existir: a luta pela vacinação é de tod@s!

Quase 250 mil pessoas já morreram em decorrência da Covid19 no país. O número alarmante, entretanto, não preocupa as autoridades, que manejam a crise sanitária com a irresponsabilidade de quem trata “uma gripezinha”. 

Em 2020, o ano em que os investimentos em saúde e em auxílios deveriam ter sido ampliados para evitar a propagação e a mortalidade do vírus, o governo Bolsonaro gastou mais de 15 milhões em leite condensado, além de 714 mil quilos de picanha e 80 mil unidades de cerveja comprados para os militares do Exército e da Marinha. Tudo isso com valores que chegaram a exceder em até 60% os preços de mercado. 

Enquanto isso, falta tudo para a população, inclusive oxigênio. Pela primeira vez uma campanha de vacinação no Brasil foi interrompida por falta de imunizantes. Esse cenário desolador fez com que a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) publicasse nota pedindo a troca do comando do Ministério da Saúde.  

Diante dessa situação, tornou-se necessário defender e lutar por algo que o governo deveria fornecer naturalmente: a vacinação para todas e todos. “Durante todo tempo de governo Bolsonaro não houve política pública de combate à fome, às desigualdades, ao desemprego crescente. Mas a necropolítica ficou bem mais evidente em 2020, quando era muito necessário um planejamento, uma orientação na saúde e na educação, já que tínhamos uma pandemia…. E neste caos ficamos em diversos momentos sem ministros da saúde e da educação, exatamente os ministros mais importantes no contexto de combate à pandemia”, explica a coordenadora do Sinasefe Brasília, Camila Tenório Cunha. 

A sindicalista esteve presente nesta quinta-feira (18) em um ato pela vacinação em massa da população e pela manutenção do auxílio emergencial. “Esse ato foi bem curto, mas simbólico, as mulheres presentes escreveram em pratos vazios as palavras: fome, vacina e auxílio já. Acho que é importante o Sinasefe apoiar atos como esse porque refletem o que está acontecendo com a maioria da família dos nossos alunos e alunas que precisam da vacina, precisam trabalhar e precisam do auxílio. Ao mesmo tempo, não adianta garantir uma coisa prejudicando outra. A justificativa de que reduzir o salário dos servidores é algo necessário para manter o auxílio não se sustenta com essa farra de gastos do governo. Além do mais, é o servidor e os serviços públicos quem garante a cidadania para a população”, explica Camila.  A atividade em questão foi organizada pela Colisão de Mulheres Negras do Distrito Federal, um coletivo de várias entidades que têm por objetivo levantar as pautas dessa parcela da população, que é a mais prejudicada de todas em termos de desemprego, vulnerabilidades, preconceito e violência. 

A vida em tempos de pandemia

No campus em que trabalho os pedagogos e gestores fizeram uma pesquisa com pequeno percentual de alunos por turma. O questionário foi ofertado para todas as turmas, todavia, em cada uma delas, apenas um pequeno número de estudantes respondeu.
Este pequeno percentual representa bem a parcela que consegue de fato acompanhar as aulas síncronas de português, matemática, química, física…
Nas respostas algo que já sabíamos conversando (por aplicativo de celular) com alguns alunos: por estarem em casa eles ajudam a olhar os irmãos menores, limpam casa, fazem comida, enfim, no espaço escolar estavam poupados de trabalho doméstico, no lar não estão.
E se o trabalho dentro é muito, não está errado ajudar aos pais, com coisas para lavar sempre que chegamos da rua, com irmãos menores estressados das quatro paredes, pais também com trabalho remoto ou trabalhando fora e deixando os menores sozinhos com os maiores…
O que está errado é ignorar duas coisas: este aprendizado de ajudar e de tudo o que estamos fazendo agora, da importância inclusive, das ciências, já é imenso, eles não precisariam estar preocupados com o tempo de assistir as aulas de física, química, etc.
Seria o momento da escola estar ali em projetos leves, uma aula síncrona por semana com tema qualidade de vida, saúde mental…etc.. Outra semana o tema água… Apenas para mantermos vínculo com alunos, apenas para tratarmos do essencial…
Seria tempo de ENEM e todos os vestibulares cancelados, pois pesquisas já indicam que teremos uma desigualdade imensa neste exame que se aproxima exatamente porque muitos estudantes moram em locais onde sequer pega plano de dados nos celulares.
No caso do IFB, onde trabalho, temos 82% de alunos de baixa renda, o que significa esta realidade descrita de jovens sobrecarregados.
Tenho uma turma (entre 9 de Ensino Médio Integrado ao Técnico ) que possui 49 alunos, destes recebo logo as redações de 4 alunos, os demais entregam lentamente. Por achar tudo muito errado não coloco prazos para entrega, e, por WhatsApp vou lembrando das tarefas.
Com ensino superior não tem jeito, preciso fazer aula síncrona, mas eles não possuem aulas síncronas de química, física, matemática…Todavia, do mesmo modo, não fecho as atividades e deixo entregarem quando podem, pois, do mesmo modo, todos estão sobrecarregados, com excesso de tarefas.
Outra estratégia que adoto para diminuir a sobrecarga emocional dos alunos é instituir um novo zero que se chama nota seis. Todos já sabem que seis é meu novo zero, ao contrário do que pensam, a maioria não quer apenas tirar seis, eles correm para entregar a atividade mesmo assim, porque já sabem que seis significa zero… Contudo, aqueles que estão sobrecarregados não se sentem pressionados porque sabem que pelo menos não reprovarão em uma disciplina.
Também tenho aceitado trabalhos, redações, áudios e/ou vídeos por aplicativo de celular.
Uma colega que trabalha com superior em outro campus chorou outro dia contando sobre uma aluna que perdeu a mãe, porém, precisava entregar todas as avaliações no prazo, como se a vida seguisse normal.
A vida não está normal, se o educador ignorar isso perderemos a chance de crescermos todos nestes tempos de anomalia.
Tempos agravados por governo genocida, que desde o início foi negacionista e como quem nega as ciências não investiu em Educação, Ciências e Pesquisa. Educação e pesquisa que nos salvaria, porque vírus se combate com isso e não armas e ódio.
Quem está fechando os olhos para o que significou esta pandemia em seus aspectos afetivos e emocionais, está também fechando os olhos para mais de duzentas mil famílias em luto, para famílias sobrecarregadas, desgastadas, tristes.
As inovações precisam vir de olhares humanos, empatia também, além de percebermos que uma nota para um aluno sem pressão pode significar um jovem sem síndrome de pânico (conversando com uma aluna do superior em letras soube que muitos ficaram assim e/ou depressivos na pandemia, depois que as aulas remotas começaram!).
As aulas remotas no IFB começaram de modo atropelado, o representante dos docentes no CONSUP usou a palavra “golpe” para descrever como de repente eles aprovaram, em reunião, o ensino remoto. Não tivemos tempo de nos preparar coletivamente e a consequência foi esta: alunos com depressão, síndrome do pânico, tendo que lidar com a sobrecarga física e emocional, porque, sem adaptação correta, muitos docentes de disciplinas mais duras apenas reproduziram – atrás da tela – as suas aulas não remotas… Os prazos e provas foram similares, causando uma fadiga mental nos alunos.
Precisamos aprender com os erros, desde cuidado para que os CONSUP’s da vida funcionem de modo mais democrático com suas comunidades, até o olhar sensível para estes alunos que sofrem, sobrecarregados.
A luta coletiva precisa estar mais atenta ainda aos processos humanizados de cuidado, temos que levar a lição da democracia, da sensibilidade, humanismo, até a importância do conhecimento, não de meros conteúdos, porém, de conhecimento capaz de transformar.
Se perdermos estas lições essenciais, perderemos o bonde da história.

Camila Tenório Cunha
Coordenadora do Sinasefe- Seção Brasília.
Professora de Educação Física do IFB,
Graduada em Licenciatura em Educação Física na UNICAMP
Mestrado em Educação na UNICAMP.

MEC quer obrigar retorno presencial sem vacina

A portaria n°1030, publicada nesta quarta-feira (02), impõe que as Instituições Federais de Ensino (IFES) retornem às atividades presenciais em pouco menos de um mês, no dia 4 de janeiro de 2021. Ignorando o cenário de pandemia em que o país se encontra, com mais de 170 mil óbitos e 697 mortes registradas ontem, o governo mais uma vez sinaliza uma total falta de compromisso com a sociedade. 

“No Brasil, estamos emendando a segunda onda de contaminações com a primeira. Segundo a Organização Mundial de Saúde ( OMS), a abertura e funcionamento seguro de instituições de ensino, só poderia acontecer em um cenário de redução significativa da curva de contágio, o que não está acontecendo no nosso país. Nesse panorama, essa portaria não tem nenhum cabimento”, explica a coordenadora do Sinasefe Brasília, Camila Tenório Cunha. 

A portaria ainda coloca na responsabilidade das IFES a disponibilização de recursos para que os protocolos de segurança sejam seguidos com o retorno presencial, em um momento em que as Instituições enfrentam uma previsão de corte de 1,8 bilhão de reais no orçamento do próximo ano. 

Resistência 

Após uma série de críticas, o governo decidiu revogar a portaria. De acordo com o ministro da Educação, Milton Ribeiro, será realizada uma consulta pública sobre o tema. “O fato do governo ter, nesse primeiro momento, voltado atrás, não deve nos tranquilizar, pelo contrário. Se o ministério já demonstrou disposição em impor o retorno presencial antes de oferecer vacina para a população, devemos nos manter alertas e mobilizados para deflagrar uma greve geral caso haja uma nova iniciativa nesse sentido”, afirma Camila Tenório Cunha. 

Em julho de 2020, o Sinasefe aprovou em plenária nacional a deflagração de greve sanitária em defesa da vida, diante de qualquer retorno presencial. 
A reitora do IFB, Luciana Massukato, também lançou uma nota afirmando que a referida portaria é “inadequada e inoportuna, pois, além de ferir a autonomia das instituições, desconsidera o aumento significativo de casos de covid-19 no país, de internações hospitalares decorrentes da doença e da ausência efetiva da vacina”. 

O Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), também divulgou uma nota contra o retorno presencial. “Voltar às aulas presenciais, de forma precipitada como disposto na Portaria, seria uma irresponsabilidade com os nossos mais de um milhão de estudantes e 80 mil servidores”, afirma um trecho do documento, que pode ser lido integralmente aqui.